O antigo grémio funcionou na ala norte da casa que foi da Avó do General Lacerda Machado e que depois pertenceu a José de Brum Martiniano. De início, ocupava somente a sala norte e, ultimamente, a sala contígua onde estivera a sede da Sociedade “Santo António” que, actualmente, tem sede própria. O Grémio Literário Lajense assim denominado, foi fundado em 1876, recebeu o espólio do antigo Gabinete de Leitura, fundado entre 1874 - 1879, com uma apreciável quantidade de livros recolhidos dos alfarrabistas, em Coimbra, quando ali estudava o que viria a ser Bispo de Macau, D. João Paulino de Azevedo e Castro.
Era no Grémio que se reunia a fidalguia, digamos, lajense, pois a admissão de qualquer sócio era sujeita a uma votação secreta e bastava um voto contra para que o candidato não fosse admitido. Lembro-me do Capitão José Francisco Fidalgo, grande jogador de bilhar. E de outros mais: Pe. José Vieira e Pe. Feliciano, José Lopes, Leonardo Amorim, Manuel Joaquim Castro, José Fernandes, Gilberto Castro, Edmundo Ávila e outros mais.
Alguns dos lajenses que viviam fora, quando visitavam a terra não dispensavam um serão no Grémio. E o mesmo sucedia com os visitantes estranhos, incluindo os caixeiros-viajantes que, quando pernoitavam na Vila das Lajes, passavam o serão naquela Sociedade. Alguns deles eram grandes jogadores de cartas… E havia mesmo um ou outro lajense que, vivendo noutra parte da ilha, atravessava a serra a cavalo para vir passar a tarde no Grémio. Não havia nem estrada e muito menos automóveis…E assim acontecia porque os horários eram diferentes. As repartições públicas encerravam às quatro horas da tarde. Hoje seria impossível.
Nos anos trinta, a sociedade lajense sofreu (ou beneficiou?) de uma grande transformação. A sociedade filarmónica “Liberdade Lajense” instalou-se na casa do Machadinho, que hoje é propriedade sua, e deu início aos bailes, “obrigando” o Grémio - que por exigência da legislação corporativa havia modificado os estatutos, passando a denominar-se “Sociedade Literária e Recreativa Lajense”, vindo a instalar-se no piso superior que a firma Edmundo Machado Ávila havia construído para garagem.
Razões várias levaram a que a Sociedade Literária e Recreativa Lajense tivesse, decorridos alguns anos, de desocupar as instalações. Os móveis foram recolhidos noutra casa e a Sociedade ou antigo Grémio deixou de funcionar com gravosos prejuízos para a sociedade lajense. Hoje, não existe local onde os lajenses se possam reunir, como era tradicional. As Salas da Filarmónica estão abertas a todos os eventos que se realizam na vila, mas a sociedade em geral não tem por hábito utilizá-las aos serões, como fazia no antigo Grémio, tanto mais que tem o “inconveniente” dos ensaios, que devem estar em primeiro lugar.
Urge, pois, reactivar a Sociedade Literária e Recreativa Lajense que, afinal, nunca foi legalmente extinta. E isso não será difícil. Basta que se encontrem salas capazes onde a secular agremiação se possa instalar, convenientemente.
Na Vila das Lajes, existiam alguns prédios devolutos que foram ruindo, desastrosamente. Está no ar e ainda em bom estado de conservação o antigo edifício da Alfandega e, sem que o Estado (D.G.F.P.) ou outro organismo estatal lhe dê aplicação, devia estar na Posse da Região e ter a aplicação devida. Já que assim acontece, porque não é entregue à S.L.R.L. mediante o devido Protocolo onde sejam estabelecidas as cláusulas de utilização?
É um simples alvitre de quem muito se interessa pelo desenvolvimento e progresso da sua terra - A VILA DAS LAJES DO PICO, a primeira vila da Ilha e uma das primeiras dos Açores.
Voltar para Crónicas e Artigos |